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A Extinção dos Funcionários Públicos

O funcionário público (FP) tornou-se de há tempos para cá numa espécie em vias de extinção. À semelhança do lince ibérico, a cegonha aveirense ou o canis lúpus da Malcata, o funcionário público português tem vindo a desaparecer gradualmente.

Começam a parecer longínquos os tempos em que íamos a uma repartição de finanças e ficávamos ali horas a espera que alguém se dignasse a dar-nos atenção. Recordo-me de um célebre dia em que entrei na 2ª repartição das finanças em Coimbra e me dirigi a um guichet no rés-do-chão para comprar o selo do carro. Isto eram praí umas 10h da manha. Depois de algum tempo na fila, a senhora muito simpática reenviou-me para o 1º piso pois não se vendiam selos ali. No andar de cima iam simpaticamente reenviando-me de fila em fila até que sendo hora do almoço a repartição fechou. Retomei depois das 14.30h numa nova fila no piso 2 e lá fui indo de fila em fila até ser reenviado pelas 15.30h ao guichet no rés-do-chão onde, adivinhe-se, eu tinha estado as 10h da manha e onde afinal tinham os tais selos do carro. Só tinha perdido um dia inteiro naquilo!!

Foi nesse dia que percebi aquela coisa de ser funcionário público em Portugal. Quando contei este episódio a um colega de serviço, ele pacientemente explicou-me que, a ideia era fazer o pessoal andar as voltas até voltar ao mesmo sítio passando por todo o tipo de filas e preenchendo todo o tipo de documentos na esperança que a meio do processo desistissem.
Dizia-me ele “Imagina que tens um processo em tribunal, assim uma coisa simples como solicitares o pagamento de uma dívida. Sabes quantas vezes vais ter de ir a tribunal? Quantos dias de baixa vais ter de meter no trabalho?  Quantos papeis, dinheiro em advogados, requerimentos, recursos, mais papeis, mais dias de falta ao trabalho.. isso te vai custar?” Na altura fiquei assim aparvalhado a olhar para ele, mas o meu colega achou que me devia elucidar melhor porque como eu tinha vindo dos Estados Unidos certamente precisava de uma melhor informação sobre o funcionamento das estruturas de funcionalismo público. “Agora imagina que queres investir em Portugal e te lembras de abrir uma empresa ou um negócio qualquer..” Disse eu logo muito apressado “um lar de idosos! Gostava de cuidar de idosos”. Respondeu-me o colega “Esquece isso! Além da compra do terreno, que é a parte mais fácil, tens documentação para estares entretido 3 anos sem veres um tijolo o sítio. Depois vêm os projectos na câmara..” Nessa altura o meu colega olhou-me assim de soslaio e perguntou-me “conheces alguém na câmara?”

Bem, confesso que ainda cheguei a tirar o cartão de jovem empresário mas foi a única coisa que fiz.. A máquina FP funcionava tão bem que passei a ter admiração pessoal por todos aqueles que conseguiam comprar um simples selo de carro.

Havia no entanto uma coisa que eu não compreendia. Eu tinha visto colegas FP saírem e irem trabalhar no privado e até mesmo no estrangeiro. Via-os singrar, serem promovidos, passarem a ter boas remunerações, até ter prémios académicos fora de Portugal. Confesso que me fazia confusão ver colegas ignorados dentro da máquina pública em Portugal serem referências nas suas áreas no estrangeiro.  “Mas que raio!”

O problema como é óbvio não são as pessoas. Não havia nada de mágico num aeroporto que transforma as pessoas muito más em muito boas (por melhor que seja o aeroporto!). Eu sempre ouvi falar bem das capacidades de trabalho dos portugueses e já vivi em 3 continentes para o comprovar. Portanto, se os portugueses são BONS lá fora também o são cá dentro.

Mas então porque funciona tudo tão mal?! ..

Hoje em dia basta abrir o jornal para ver que abriu a caça ao FP.  De 1 entrada por cada 2 FP que se vão embora, passou-se a zero entradas. Além de se proibir a contratação de novos FP, proibiram-se igualmente as licenças sem vencimento.  Retiram-se exclusivamente aos FP os subsídios de Natal e de Férias (já alguém leu a definição de ´discriminação´ no dicionário?). Está ainda prevista a rescisão de contratos a dezenas de milhares de FP.

Há por aí quem diga que isto se justifica porque a culpa do déficit é dos FP. A culpa da troika estar aqui é dos FP. A culpa da dívida da Madeira é dos FP. A culpa de se terem construído estádios de futebol às catadupas é dos FP. A culpa de haver PPPs é dos FP. A culpa das câmaras precisarem de muiiiiiita acessoria jurídica é dos FP. A culpa de termos perdido o europeu e o mundial de futebol é dos FP. A culpa da guerra do golfo, a invasão do Iraque ou o tsunami na indonésia, é dos FP. Há até quem diga que a causa da relatividade e incerteza atómica do universo, é dos FP. 

Eu confesso que discordo um bocadinho. Nunca ouvi falar de um grupo de cidadãos que tivesse tomado de assalto um centro de segurança social ou um centro de saúde e os tivesse obrigado a aceitarem-nos como funcionários. O FPjacking não é assim tão comum. Se eles lá foram parar foi porque “alguém” abriu um concurso, que “alguém” aprovou, e fez com que aquelas pessoas que demonstraram qualidades superiores para ficar nos primeiros lugares do concurso, se tornassem funcionários públicos.  Se estes funcionários não eram precisos, se estavam a mais, se causavam tanta despesa que provocaram um “rombo” no país a pontos de termos de chamar o FMI.. Porque raio é que os contrataram?!! Mas estavam todos a dormir?!

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