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Life as Theatre Nurse - Part II

No meu caso, concorri pelos dois processos. Concorri pelo NHS Jobs (ao qual cheguei a ir a uma entrevista) e posteriormente por agência, (soube que haveriam entrevistas perto da minha cidade e então aproveitei).
Independentemente do processo que escolherem, convém terem com vocês pelo menos duas referências, que podem ser de professores da vossa universidade, enfermeiros, etc. que tiveram em contacto com vocês, obviamente. Basta pedirem-lhes uma carta de referência para uma entidade empregadora.
Quando entrei para a etapa das entrevistas tratei de estudar algumas coisas que no UK é essencial saber. Pois além de vos fazerem perguntas desde o sistema nacional de saúde até à legislação de administração de medicação, que normalmente, fazem sempre um teste para ver se estão aptos para a entrevista. Em termos de comparação, achei mais fácil o teste da agência do que pelo NHS Jobs, não que este último seja um quebracabeças, até porque quase dá para responder apenas com bom senso.
Portanto, tanto para o teste como para a entrevista, terão que ter conhecimentos relativamente: NHS (sistema nacional de saúde inglês; saber objectivos e problemas);Clinical Governance (filosofia do NHS); Care Quality Commission (nem todos perguntam mas não custa nada saber pelo menos o que é); Standards for Medicines Management (legislação para a medicação, desde o armazenamento até ao administrar, normalmente incluem no teste antes da entrevista); Drug Calculations (normalmente Incluem no teste antes da entrevista); Carreira de Enfermagem no UK; Royal College of Nursing (pelo menos saber o que é).
Como disse anteriormente, fui às entrevistas para um hospital nos arredores de Londres, para Operating Theatres (bloco operatório) e não consigo descrever por palavras a minha reacção quando recebi a notícia de que tinha passado na entrevista… Mas após ter sido aceite, ainda havia coisas a tratar. Recebi entretanto a job offer letter para assinar (pois o contrato em si, assinei no UK), formulários do departamento da Occupational Health, questionários do hospital para as minhas referências, inscrição para as acomodações e, por fim, marcar o voo. Quanto a este último, só comprei o voo a 15 dias da data prevista para ir para o UK e desde que recebi o telefonema a dizer que fui aceite, até efectivamente ir embora, passou-se 1 mês e meio, por isso tive bastante tempo para colocar tudo em ordem, fazer e refazer as malas e tratar das devidas despedidas. Não vou mentir: custam e muito. Aliás eu quando me fui embora, não sabia quando iria voltar (apesar de estar no UK há 4 meses, já fui 3 vezes a Portugal). O mais difícil, a seguir às despedidas, é colocar o essencial em 35 quilos de bagagem (devido à companhia aérea escolhida pela agência só podia levar esses).
Quando chegámos ao UK, tinha uma pessoa da agência à nossa espera (digo nossa porque fui juntamente num grupo de 20 pessoas) e levou-nos para um mini-autocarro para nos levar às acomodações “arranjadas” pela agência. Quando chegamos àsresidências (porque aquilo eram o equivalente em Portugal a umas residências académicas) começamos por receber algumas informações, por uma pessoa dos Recursos Humanos do hospital, para depois tratar da papelada. Como disse, as residências são do género residências académicas, era um quarto pequeno, uma casa-de-banho que era ainda mais pequena aliás mesmo minúscula (pois o pessoal na brincadeira chama-a de "casa-de-banho de avião", só para terem uma noção da coisa) e tinha que dividir a cozinha com mais 8 pessoas. Ficámos nestas instalações pois as acomodações do próprio hospital estavam superlotadas. Além do defeito da casa-de-banho ser microscópica, o grande defeito que encontrei nas acomodações provisórias fornecidas pela agência (apesar de obviamente isso não ser do controlo deles mas sim da gerência das residências), é que o meu grupo ficou todo separado, ou seja, poderíamos ter ficado num só piso, ficando todos juntos, o que facilitava o choque dos primeiros dias. Davam perfeitamente para uma acomodação provisória, ou seja, para o tão português “desenrasque” mas obviamente que estava era mortinha por ter o meu cantinho, por isso já estava avidamente à procura de casa. Na primeira noite, quando me fui deitar, a saudade bateu muito forte no coração cansado... Mas já sabia que iria ser assim, além do extremo cansaço (pois estive mais de 30 horas sem dormir) foi muita coisa ao mesmo tempo, muita coisa a assimilar. Apesar das lágrimas, era minha vontade estar aqui, trabalhar e começar uma vida a dois (pois tanto eu como o meu namorado fomos aceites para o mesmo hospital, apesar de serviços diferentes), só que é normal sentir saudade e sentir o choque de estarmos (totalmente) sozinhos pela primeira vez. Não é fácil mas já estava a contar que o início custasse um pouco mais... No entanto, tinha o meu namorado comigo e apoiámo-nos um ao outro, além de que fui conhecendo o pessoal que veio comigo e pessoal que já cá estava há mais tempo e tentávamos sempre apoiarmo-nos. Nos primeiros dias que tivemos livres, aproveitámos para visitar o hospital e a cidade
para onde iríamos mesmo trabalhar, que ficavam noutra cidade de onde estavam as Residências. Pode parecer-vos um pouco confuso mas é como se fosse um grande hospital dividido em dois, localizados em cidades diferentes, tendo entre hospitais um mini-bus que é gratuito para os trabalhadores, que demora 30 minutos. Normalmente cada hospital tem a sua farda, com um código de cores para cada profissão (por exemplo, neste hospital é azul às ricas brancas para enfermagem, com divisas para as diferentes hierarquias) e logo no primeiro dia forneceram-me quatro fardas, com o meu nome bordado, apesar de não as utilizar pois estando nos Theatres, utilizo as tão conhecidas scrubs, fornecidas também pelo hospital. Contudo, pela experiência dos meus colegas que estão nas Wards (nas medicinas), têm que ser eles a lavar as fardas em casa, ao contrário de mim, que é da responsabilidade do hospital lavar as scrubs.
Nos primeiros dias de trabalho, vá, não era bem trabalho porque ainda estava em integração, ao que eles chamam de induction, que é completamente diferente da
integração em Portugal. Pois é, na verdade, várias palestras dos mais variados assuntos do hospital, desde as Finanças passando pela Medicina Ocupacional até ao Suporte Básico de Vida. Pensava eu que na integração estaria só o meu grupo de enfermeiros portugueses e pouco mais. Nem pensar! Toda a gente que começa a trabalhar no hospital (desde o porteiro ao director clínico, passando pelos estagiários) passa por este tipo de integração, daí ter enchido completamente a sala de conferências do mais variado pessoal da casa. Fiz, ainda na induction, mini-cursos que eles consideram essenciais para poder-se trabalhar num hospital, que são: combate a incêndios (no hospital, claro), de suporte básico de vida, de gestão do risco…
Durante os primeiros turnos no serviço, ainda tinha algumas palestras, onde tive que fazer novamente testes de cálculos de drogas, um teste específico do hospital para testar conhecimento sobre transfusões de sangue e administração de medicação. Que novamente, nada de especial e até as enfermeiras encarregadas da induction do meu grupo diziam que não esperavam menos de 100% dos enfermeiros portugueses! E assim
foi, todos nós tirámos 100% nos testes. Entretanto, estava ainda à procura de casa, que no UK é relativamente fácil de fazer pois têm sites que servem comomotoresde busca para encontrar casa (tanto para alugar como para comprar) através de diferentes agências imobiliárias. Comigo e com o meu grupo foi assim mesmo, escolhemos umas determinadas casas que queríamos ver, fomos às agências ou enviámos email para combinar uma visita à casa e depois víamos efectivamente as casas para depois escolhermos a melhor. Em termos de agência, eu e o meu namorado ficámos muito bem servidos pois trataramnos de tudo, foram extremamente transparentes e tiveram sempre em conta que vínhamos de outro país com dinheiro limitado. Demorou 2 semanas, desde o “sim” à casa a termos as chaves da mesma, pois era preciso fazerem uma verificação de registo criminal, verificação do nosso contrato de trabalho, verificação das nossas referências para aluguer (sim, também tivemos que dar referências para a nossa casa, se bem que a minha manager já estava sensibilizada para o facto e mostrou-se logo no início disponível para ser minha referência e dos meus colegas de serviço) e receber a aprovação dos senhorios.
Convém terem em conta de que irão gastar bastante dinheiro nos primeiros tempos, pois é necessário pagar sinal e em alguns casos pagar a renda daquele mês, que se alugarem uma casa sem mobília (o que é relativamente normal fora do centro de Londres e para Terem noção até ao meu primeiro salário, as minhas refeições foram feitas na tábua de engomar e bancos de plástico, em vez de uma mesa e cadeiras), além do council tax, contas da luz, água e gás, é tudo a acrescentar. O que é um grande arrombo nas já tão frágeis finanças de um recém-empregado!
Nos primeiros turnos, em Theatres, informaram o meu grupo que iríamos ser supranumerários por 3 meses, ou seja, iríamos ser um enfermeiro extra no turno, fazendo as 37,5 horas semanais. Que naquele serviço resultaria em trabalhar das 8 da manhã às 6 da tarde, com direito a fim de semana e ainda uma folga durante a semana, pois sendo supranumerários não fazia muito sentido fazer noites ou fazer fins-desemana porque tanto num turno como no outro só os blocos de emergência estavam em funcionamento e só poderíamos começar esse tipo de turnos após ganhar experiência. Foi também precisamente nestes primeiros turnos no serviço, que tomei noção da quantidade de portugueses que cá trabalham, tanto no meu serviço como em todo o hospital. Só para terem noção, no meu serviço, já trabalhavam à ronda de 15 portugueses e em todo o hospital perfaz perto de 150 a 200 portugueses! Podem imaginar que os nossos convívios são sempre uma animação e uma imensa troca de experiências de diferentes pessoas de diferentes serviços/departamentos. Apesar de que não é aceitável pelo serviço, falarmos português entre nós…
O meu serviço em si, é simples porque também não pode ser sítio de muitos aparatos. Tem é muitos corredores, muitas salas, muitas arrecadações e no início se não andasse acompanhada perdia-me. Parecia-me literalmente uma cidade por debaixo do hospital! Os Theatres dividem-se em vários departamentos, tem 9 blocos operatórios distintos, 6 deles é para operações electivas (desde oftalmologia a ortopedia) e os restantes 3 são de emergência (cirurgia geral, obstetrícia e traumatologia), além de 3 salas de recobro distintas. Como o meu grupo, perfaz 10 pessoas, ficou um em cada departamento (cada um distribuído a um enfermeiro-mentor diferente), enquanto supranumerários, durante 3 meses para aprendermos tanto a circular como a instrumentar ou então como enfermeiro de recobro. Pois as funções de um enfermeiro de bloco operatório, passa por isso mesmo, por ser enfermeiro circulante (está disponível para tratar da papelada, disponibilizar material, está atento ao doente, gere o bloco, entre outras coisas), enfermeiro instrumentista (disponibiliza os instrumentos ao cirurgião, faz a montagem de determinados instrumentos e dos sets, assiste o cirurgião se necessário, além de ser responsável pelo doente, entre outras coisas) e enfermeiro de recobro (recebe o doente, cuida do doente até este estar estável, faz a passagem ao enfermeiro da Ward, entre outras coisas), tendo que saber ser competente em todas as vertentes (obviamente que um enfermeiro de bloco operatório é muito mais que estas meras linhas e eu ainda estou
muito no início, para vos dar uma descrição completa do que é realmente ser enfermeiro de bloco). Além do próprio hospital contactar um banco para o mesmo se disponibilizar a abrir contas para o novo grupo de enfermeiros portugueses, logo nas primeiras semanas tive ainda que ir a uma consulta da Occupational Health para me darem a autorização para trabalhar em áreas de risco, ou seja, em termos práticos para me darem a autorização,
após verificação das minhas análises de sangue (para verem se estou infectada com o vírus HIV, Hepatite B…), para instrumentar. Além das ditas análises de sangue, tive ainda que receber uma VASPR pois em criança só tinha recebido uma, tal foi a análise profunda do meu boletim de vacinas.
Eu fiquei colocada, para os meus 3 meses de turnos supranumerários, em Traumatologia. Além de ser um bloco de emergência, é uma especialidade que o controlo de infecção está ao rubro, tem 1001 instrumentos diferentes e mais: parafusos, placas, cavilhas, etc. Recém-licenciada, sem experiência e num serviço assim, obviamente que nos primeiros tempos até subia paredes com o pânico mas passados apenas 2 meses estou mais confiante e trabalho sozinha. É mais complicado do que parece contudo, o que é realmente complicado é saber onde estão as coisas, aprender a burocracia, basicamente coisas que se aprendem com o tempo. Uma das coisas que me foi incutida pelo meu enfermeiro-mentor é que eu vou errar. Por mais atenta e perfeita
que seja, vou sempre errar porque sou humana! Não me posso envergonhar por esse facto, apenas dar conta dos erros, informar e corrigir, aprendendo com a lição. Ao final dos 3 meses, há uma avaliação por parte do enfermeiro-mentor que é basicamente para dizer se a pessoa em questão está competente ou não para trabalhar em Theatres. Durante estes meses, fazem-se pelo menos duas reuniões, para saber se estamos satisfeitos com os nossos mentores e também sensibilizar-nos para trabalharmos em equipa.
Sou sincera, no início estava um pouco apreensiva em ir trabalhar para Theatres e pensava eu, que mal pudesse ia tentar mudar para uma Ward. Agora após uns mesitos a trabalhar cá, adoro o que faço, nunca há monotonia, estou sempre a aprender coisas novas, toda a gente (desde auxiliares a cirurgiões) é acolhedora e não me pareça que vá sair do meu serviço! Aliás se tudo correr bem, não penso sair do UK tão cedo (até estou a descontar para o NHS Pensions, vejam lá), as condições de trabalho são boas, recebemos a condizer (apesar de pagarmos bastante de impostos mas é o que dá viver em terras de sua majestade), progressãona carreira também, especialização disponível e comparticipada pelo hospital, entre outros factores que transformam a minha vinda para o UK um verdadeiro benefício à minha carreira como enfermeira, inclusive à minha vida pessoal! Sim, claro que sinto falta da comida, família e amigos… Mas é relativamente fácil e barato ir a Portugal para matar saudades, além de que é mais fácil, hoje em dia, manter contacto.
Em suma, cada dia é uma vitória, não só pelo meu próprio esforço como também pelo esforço dos meus pais porque eles me deram todo o apoio tanto emocional/psicológico como financeiro. Adoro a cidade onde estou a viver, tenho a minha rica casinha, gosto do meu trabalho e, sim, sou emigra!
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