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Nós por lá - Entrevista a um colega Enfermeiro na Suiça - Plano de cuidados blog
Ciente que a recente diáspora de enfermeiros para o estrangeiro, fluxo já anterior ao inqualificável “convite” que o Primeiro-Ministro endereçou a todos os jovens, se traduz numa problemática no seio da Enfermagem e da Saúde em Portugal e no actual paradigma que o país habita. Numa altura em que a procura na aquisição de conhecimentos linguísticos, com o verbo “emigrar” no pensamento, está em alta e cada vez mais em vogue no dia-a-dia de muitos enfermeiros, decidi com a ajuda das novas ferramentas de comunicação viajar ciberneticamente até Lausanne (Suíça), mais concretamente até ao serviço de Cirurgia Visceral – CHUV (Centre Hospitalier Universitaire Vaudois), onde encontrei a disponibilidade do meu amigo e colega Tiago Esteves para uma entrevista informal ao Plano de Cuidados, na qual abordámos questões como o primeiro emprego, o processo de ida para a Suíça, como é visto o enfermeiro português no estrageiro, as diferenças entre as competências/funções nos dois países e, entre outros algumas sugestões para quem pondera emigrar. Boa leitura.
Bruno Martins - Quando finalizaste a Licenciatura em Enfermagem?
Tiago Esteves - Julho de 2008 na Escola Superior de Saúde de Viseu
Bruno Martins - Conseguiste encontrar o teu primeiro emprego quanto tempo após o terminus da Licenciatura?
Tiago Esteves - Ao contrário de muitos colegas, comecei a trabalhar logo na semana a seguir. Inicialmente a recibos verdes, situação que depois se viria a tornar em estágio profissional (acabei por ficar esse período 3 meses + 12 meses de estágio profissional). Confesso que apesar da aparente sorte de começar cedo, não foi um episódio muito agradável a nível pessoal nem profissional. Aliás começo desde já por criticar o conceito de estágio profissional que imperava na época, uma vez que não salvaguardava os estagiários mas sim a entidade patronal que beneficiava de mão-de-obra qualificada a baixos custos, mas enfim...quando aceitei já sabia as regras do jogo (ou as falhas deste, melhor dizendo).
Bruno Martins - Como explicas a tua ida para a Suiça: opção ou obrigação?
Tiago Esteves - A hipótese Suíça surge numa fase de desgaste após ter experimentado todas as hipóteses: recibos verdes, estágio profissional, part-times, falsas esperanças...etc. O facto de ser casado e ter uma filha, pesou desde logo nas minhas escolhas. O factor distância acabou por me fazer desperdiçar oportunidades que em tempos havia no mercado, o que para nós (“beirões do interior”) seriam os grandes centros como o Porto ou Lisboa, onde ao longo do tempo os meus colegas de curso foram sendo colocados.
Na verdade e mesmo com estas restrições que me impus, fui sempre arranjando "biscates" na área de Enfermagem, nada certo ou com possibilidade de continuidade.
Após ter estado a recibos verdes num Centro de Saúde (sim, porque isso existe) próximo da minha área de residência, findo o meu "contrato" e após ter enviado vários CV para os sítios que outrora descriminei voluntariamente...nada!! Era preciso encontrar soluções e a verdade é que não queria esperar muito, não nesta fase, estar desempregado após 3 de trabalho é um cenário diferente daquele que quando acabamos o curso…penso ser mais duro esperar nesta altura.
A Suíça aparece por acaso. Entre ir para Lisboa ou para o Porto, eu preferia o estrangeiro e não escondo que ao abdicar da minha família, este sacrifício teria de ser recompensado, e quando digo recompensado, falo em termos financeiros. Fruto de ser filho de emigrantes (embora tenha apenas vivido em França até aos 5 anos) estava bastante familiarizado com a língua francesa e como havia propostas para enfermeiros na Suíça...surgiu assim: "olha, vou mandar um mail...e logo se vê...sem compromisso!". No dia seguinte, recebi resposta e na semana seguinte estava em Lisboa para ter entrevista na Assiteo (empresa de recrutamento) a quem agradeço, pois tem feito um trabalho brilhante na integração dos enfermeiros neste país. Quando releio a tua questão, digamos que foi um misto de opção e obrigação. Estava obrigado a trabalhar e optei pela Suíça com todos os riscos que corria, e como vais ver...não me arrependo!
Bruno Martins - O processo burocrático da tua ida foi complicado? A OE mostrou-se receptiva, disponível e prestou-te os devidos esclarecimentos durante todo o processo?
Tiago Esteves - Não, foi relativamente rápido e fácil, uma vez que a Assiteo assumiu todas as responsabilidades de tudo o que era burocracia. Foi uma ajuda primordial, uma vez que em relação à Suíça existem uma série de especificidades. Quanto à OE, nunca houve abertura, vontade ou disponibilidade para ajudar / informar ou o que quer que seja, apenas o envelope mensal com a revista e a respectiva cobrança da quota, desde que sou enfermeiro é a única coisa que me faz lembrar que estou inscrito numa Ordem. Acredito que, como a conjuntura e o paradigma actual mudaram, estejam mais despertos para isso, mas eu ainda sou da época dos discursos em que faltavam cerca de 5000 enfermeiros para cobrir as necessidades do SNS. Dormiu-se à sombra deste discurso, enquanto ao lado a diáspora dos enfermeiros começava em larga escala. Concluindo fui eu e a Assiteo que tratámos de tudo, depois disto, contactei a OE para me informar como poderia suspender a minha inscrição e até aí a informação foi díspar, mas lá consegui e a minha relação agora é de Enfermeiro com a inscrição suspensa e sem cartão da ordem.
Bruno Martins - Como sentes que é visto o enfermeiro português na Suiça?
Tiago Esteves - O enfermeiro português é muito bem visto pelas instituições suíças, em poucas palavras somos trabalhadores e faltamos pouco e isso por si só, já conta muito! Para teres uma noção, a Enfermagem não faz parte dos cursos que se leccionam nas Universidades...são realidades diferentes em termos de carreiras! De qualquer das formas a Suíça é um país que importa muita mão-de-obra estrangeira e só na área de saúde existe uma carência de aproximadamente 5000 cuidadores (maioritariamente de enfermeiros), uma vez que não se trata de um curso muito apetecível/atractivo aos jovens.
A assiduidade/pontualidade são o primeiro factor, mas as nossas competências são muito valorizadas. Para teres uma noção só no meu hospital (CHUV - LAUSANNE) já somos um número a rondar a centena de enfermeiros portugueses e há serviços onde dão mesmo preferência aos portugueses.
Mesmo que não concorde que isto se trate de um elogio (uma vez que estamos a formar para o estrangeiro), são os impostos dos portugueses que estão a patrocinar este défice à Confederação Helvética (irónico, uma vez que se trata de uma das economias mais fortes do mundo).
O contexto mudou um pouco, com a crise a prolongar-se em Portugal e o desemprego, a procura por parte de enfermeiros nacionais faz com que sejam mais exigentes com a língua e a experiência profissional. Vejamos isto como a lei de mercado. É por isso começamos a ver muitos colegas que voltam a Portugal sem trabalho.
A Suíça não é o "el dorado" e cada vez menos o será, também aqui começa-se a sentir a crise e a força de um franco forte que em nada ajuda a economia helvética. A diferença é que a Suíça hoje começa também a ser procurada por países vizinhos como a França, a Itália ou até mesmo a Espanha que embora mais longe tem no desemprego o seu maior flagelo.
Bruno Martins - Denotas grandes diferenças nas competências e funções do profissional de enfermagem na Suiça relativamente a Portugal? Quais são as mais marcantes?
Tiago Esteves - No que diz respeito a competências/funções não, não há nada que possas fazer em Portugal por competência de Enfermeiro que aqui não. Denoto que estamos mais capazes tecnicamente que os nossos colegas suíços, mas aí mérito seja dado à nossa formação académica.
Colocaria a diferença na organização dos cuidados. Para perceberes o contexto, na Suíça todo o cidadão tem obrigatoriamente de ter o que se chama um "seguro de saúde de base", o que implica um contributo financeiro mensal, tudo é coberto pelos seguros. Cuidados financiados podem ser melhores e de mais fácil acesso, infelizmente é assim, porque a saúde tem elevados custos financeiros.
Aqui todos se tratam por "tu" e o que poderia parecer uma banalidade, tem uma enorme importância nos cuidados prestados. O que aprendes na escola de multi/interdisciplinaridade em Portugal não existe. Na Suíça, o enfermeiro é parte integrante do internamento de um determinado paciente. É comum sentares-te à mesa com o médico, assistente social, nutricionista e família para decidires a alta do paciente e restantes inerências para verificarmos se está apto, capaz e do que precisa para poder regressar ao domicílio. Participas no tratamento do paciente e és mais interventivo em determinadas questões que em Portugal passam exclusivamente pela equipa médica.
No meu serviço especificamente, no serviço de Cirurgia Visceral (que é um serviço de referência na Europa Central), estamos a começar um novo projecto denominado de Binómio, onde tu fazes parceria com um ASSC (assistente em cuidados de enfermagem), questão que já há alguns anos se colocou em Portugal, tem prós, tem contras… mas isso dava por si só uma entrevista maior do que esta. Infelizmente para nós será uma inevitabilidade, é tudo uma questão de custos.
Considero que a carga de trabalho é superior aqui, e as responsabilidades que te são exigidas num determinado processo de internamento são maiores. Tens avaliações periódicas pelo teus Chefe de Unidade o que te "obriga" a manteres-te empenhado e actualizado ao nível dos conhecimentos. Tens a oportunidade de teres 5 dias de formação por ano, onde podes gerir tema, tempo, local e ambições pessoais, faz parte da "formação contínua" como eles lhe chamam aqui.
Em suma, os enfermeiros portugueses pela sua boa formação estão aptos e capazes para desempenhar funções em qualquer lugar do mundo. Claro que existem pequenas diferenças, mas é fácil adaptar-se!
Bruno Martins - Quando finalizaste a Licenciatura em Enfermagem?
Tiago Esteves - Julho de 2008 na Escola Superior de Saúde de Viseu
Bruno Martins - Conseguiste encontrar o teu primeiro emprego quanto tempo após o terminus da Licenciatura?
Tiago Esteves - Ao contrário de muitos colegas, comecei a trabalhar logo na semana a seguir. Inicialmente a recibos verdes, situação que depois se viria a tornar em estágio profissional (acabei por ficar esse período 3 meses + 12 meses de estágio profissional). Confesso que apesar da aparente sorte de começar cedo, não foi um episódio muito agradável a nível pessoal nem profissional. Aliás começo desde já por criticar o conceito de estágio profissional que imperava na época, uma vez que não salvaguardava os estagiários mas sim a entidade patronal que beneficiava de mão-de-obra qualificada a baixos custos, mas enfim...quando aceitei já sabia as regras do jogo (ou as falhas deste, melhor dizendo).
Bruno Martins - Como explicas a tua ida para a Suiça: opção ou obrigação?
Tiago Esteves - A hipótese Suíça surge numa fase de desgaste após ter experimentado todas as hipóteses: recibos verdes, estágio profissional, part-times, falsas esperanças...etc. O facto de ser casado e ter uma filha, pesou desde logo nas minhas escolhas. O factor distância acabou por me fazer desperdiçar oportunidades que em tempos havia no mercado, o que para nós (“beirões do interior”) seriam os grandes centros como o Porto ou Lisboa, onde ao longo do tempo os meus colegas de curso foram sendo colocados.
Na verdade e mesmo com estas restrições que me impus, fui sempre arranjando "biscates" na área de Enfermagem, nada certo ou com possibilidade de continuidade.
Após ter estado a recibos verdes num Centro de Saúde (sim, porque isso existe) próximo da minha área de residência, findo o meu "contrato" e após ter enviado vários CV para os sítios que outrora descriminei voluntariamente...nada!! Era preciso encontrar soluções e a verdade é que não queria esperar muito, não nesta fase, estar desempregado após 3 de trabalho é um cenário diferente daquele que quando acabamos o curso…penso ser mais duro esperar nesta altura.
A Suíça aparece por acaso. Entre ir para Lisboa ou para o Porto, eu preferia o estrangeiro e não escondo que ao abdicar da minha família, este sacrifício teria de ser recompensado, e quando digo recompensado, falo em termos financeiros. Fruto de ser filho de emigrantes (embora tenha apenas vivido em França até aos 5 anos) estava bastante familiarizado com a língua francesa e como havia propostas para enfermeiros na Suíça...surgiu assim: "olha, vou mandar um mail...e logo se vê...sem compromisso!". No dia seguinte, recebi resposta e na semana seguinte estava em Lisboa para ter entrevista na Assiteo (empresa de recrutamento) a quem agradeço, pois tem feito um trabalho brilhante na integração dos enfermeiros neste país. Quando releio a tua questão, digamos que foi um misto de opção e obrigação. Estava obrigado a trabalhar e optei pela Suíça com todos os riscos que corria, e como vais ver...não me arrependo!
Bruno Martins - O processo burocrático da tua ida foi complicado? A OE mostrou-se receptiva, disponível e prestou-te os devidos esclarecimentos durante todo o processo?
Tiago Esteves - Não, foi relativamente rápido e fácil, uma vez que a Assiteo assumiu todas as responsabilidades de tudo o que era burocracia. Foi uma ajuda primordial, uma vez que em relação à Suíça existem uma série de especificidades. Quanto à OE, nunca houve abertura, vontade ou disponibilidade para ajudar / informar ou o que quer que seja, apenas o envelope mensal com a revista e a respectiva cobrança da quota, desde que sou enfermeiro é a única coisa que me faz lembrar que estou inscrito numa Ordem. Acredito que, como a conjuntura e o paradigma actual mudaram, estejam mais despertos para isso, mas eu ainda sou da época dos discursos em que faltavam cerca de 5000 enfermeiros para cobrir as necessidades do SNS. Dormiu-se à sombra deste discurso, enquanto ao lado a diáspora dos enfermeiros começava em larga escala. Concluindo fui eu e a Assiteo que tratámos de tudo, depois disto, contactei a OE para me informar como poderia suspender a minha inscrição e até aí a informação foi díspar, mas lá consegui e a minha relação agora é de Enfermeiro com a inscrição suspensa e sem cartão da ordem.
Bruno Martins - Como sentes que é visto o enfermeiro português na Suiça?
Tiago Esteves - O enfermeiro português é muito bem visto pelas instituições suíças, em poucas palavras somos trabalhadores e faltamos pouco e isso por si só, já conta muito! Para teres uma noção, a Enfermagem não faz parte dos cursos que se leccionam nas Universidades...são realidades diferentes em termos de carreiras! De qualquer das formas a Suíça é um país que importa muita mão-de-obra estrangeira e só na área de saúde existe uma carência de aproximadamente 5000 cuidadores (maioritariamente de enfermeiros), uma vez que não se trata de um curso muito apetecível/atractivo aos jovens.
A assiduidade/pontualidade são o primeiro factor, mas as nossas competências são muito valorizadas. Para teres uma noção só no meu hospital (CHUV - LAUSANNE) já somos um número a rondar a centena de enfermeiros portugueses e há serviços onde dão mesmo preferência aos portugueses.
Mesmo que não concorde que isto se trate de um elogio (uma vez que estamos a formar para o estrangeiro), são os impostos dos portugueses que estão a patrocinar este défice à Confederação Helvética (irónico, uma vez que se trata de uma das economias mais fortes do mundo).
O contexto mudou um pouco, com a crise a prolongar-se em Portugal e o desemprego, a procura por parte de enfermeiros nacionais faz com que sejam mais exigentes com a língua e a experiência profissional. Vejamos isto como a lei de mercado. É por isso começamos a ver muitos colegas que voltam a Portugal sem trabalho.
A Suíça não é o "el dorado" e cada vez menos o será, também aqui começa-se a sentir a crise e a força de um franco forte que em nada ajuda a economia helvética. A diferença é que a Suíça hoje começa também a ser procurada por países vizinhos como a França, a Itália ou até mesmo a Espanha que embora mais longe tem no desemprego o seu maior flagelo.
Bruno Martins - Denotas grandes diferenças nas competências e funções do profissional de enfermagem na Suiça relativamente a Portugal? Quais são as mais marcantes?
Tiago Esteves - No que diz respeito a competências/funções não, não há nada que possas fazer em Portugal por competência de Enfermeiro que aqui não. Denoto que estamos mais capazes tecnicamente que os nossos colegas suíços, mas aí mérito seja dado à nossa formação académica.
Colocaria a diferença na organização dos cuidados. Para perceberes o contexto, na Suíça todo o cidadão tem obrigatoriamente de ter o que se chama um "seguro de saúde de base", o que implica um contributo financeiro mensal, tudo é coberto pelos seguros. Cuidados financiados podem ser melhores e de mais fácil acesso, infelizmente é assim, porque a saúde tem elevados custos financeiros.
Aqui todos se tratam por "tu" e o que poderia parecer uma banalidade, tem uma enorme importância nos cuidados prestados. O que aprendes na escola de multi/interdisciplinaridade em Portugal não existe. Na Suíça, o enfermeiro é parte integrante do internamento de um determinado paciente. É comum sentares-te à mesa com o médico, assistente social, nutricionista e família para decidires a alta do paciente e restantes inerências para verificarmos se está apto, capaz e do que precisa para poder regressar ao domicílio. Participas no tratamento do paciente e és mais interventivo em determinadas questões que em Portugal passam exclusivamente pela equipa médica.
No meu serviço especificamente, no serviço de Cirurgia Visceral (que é um serviço de referência na Europa Central), estamos a começar um novo projecto denominado de Binómio, onde tu fazes parceria com um ASSC (assistente em cuidados de enfermagem), questão que já há alguns anos se colocou em Portugal, tem prós, tem contras… mas isso dava por si só uma entrevista maior do que esta. Infelizmente para nós será uma inevitabilidade, é tudo uma questão de custos.
Considero que a carga de trabalho é superior aqui, e as responsabilidades que te são exigidas num determinado processo de internamento são maiores. Tens avaliações periódicas pelo teus Chefe de Unidade o que te "obriga" a manteres-te empenhado e actualizado ao nível dos conhecimentos. Tens a oportunidade de teres 5 dias de formação por ano, onde podes gerir tema, tempo, local e ambições pessoais, faz parte da "formação contínua" como eles lhe chamam aqui.
Em suma, os enfermeiros portugueses pela sua boa formação estão aptos e capazes para desempenhar funções em qualquer lugar do mundo. Claro que existem pequenas diferenças, mas é fácil adaptar-se!
Bruno Martins - Numa altura em que, segundo a OE, 10 enfermeiros por dia estão a sair de Portugal para exercerem funções no estrangeiro, tens alguma sugestão que possas fazer a estes colegas que o país opta por não os abraçar?
Tiago Esteves - Procurar, explorar e preparar a ida para o estrangeiro obriga a uma preparação pessoal e intelectual. Falar a língua é muito importante, essencial para não se sentir "emigrante" no país de acolhimento e "estrangeiro" no país de origem. Nesta altura é importante perceber que o desemprego é um problema comum a toda a Europa e que as propostas não chegam de um dia para o outro, é preciso ter paciência e não desesperar. Ver o tempo como um tempo de preparação para um novo desafio que se segue.
Quanto a OE, mais uma vez penso que acordou tarde de mais para este problema, aliás como tantos problemas que houve durante estes 12 anos...lutas fora de timing. Fico estupefacto (não surpreendido) ao ver 10 euros mensais de quota (actualização em 2014) quando se tem por salário base 1020 euros e vem-me à memória uma frase do estilo: “O que é que a Ordem dos Enfermeiros fez por mim?! Muito pouco, nada...nem antes...nem depois...nem agora...”
Em relação à Suíça, é um país muito caro, as compras de Supermercado levam uma boa parte do salário mensal. Os bens essenciais têm preços exorbitantes comparados com o nosso país…para se ter uma noção um big-mac (da conhecida marca americana) custa á volta de 13chF(10.30 Euros), trata-se de uma comparação usada para ver o custo de vida de um país.
Outro dos problemas é o alojamento, existe uma carência enorme nesta área, primeiro por causa da emigração e segundo porque aqui o arrendamento é maioritário, uma vez que poucos são os suíços proprietários, um Estúdio ronda os 1000chF (cerca de 800 euros) e um T1 1700chF (cerca de 1350 Euros), são valores aproximados de mercado, mas normalmente os Hospitais têm residências próprias para os funcionários que chegam…Não venham sem alojamento, porque a busca pode significar meses à procura e às vezes sem sucesso!
Andar de transportes públicos é a melhor solução aqui na Suíça, uma vez que vão a todo lado. Boas ofertas, bons horários mas a preço elevado para quem vem de férias…diferente para quem reside cá, pois existe um cartão anual (1/2 tarif) que custa 165 chF(130 euros) que te permite viajar sempre a metade do preço!
Claro que há muito aspectos positivos, estamos no centro da Europa e isso permite-te passear de avião e comboio a preços mais baixos do que Portugal. Em suma o custo de vida é caro (muito caro mesmo) mas proporcional ao que se ganha, com bom senso ainda dá para poupar alguns francos e aproveitar a vida!
É um país lindo como muito para visitar onde os portugueses são muito apreciados!
Bruno Martins - Um estudo de 2010, realizado pela ACSS junto de 50 hospitais, verificou que naqueles hospitais faltavam 3.500 enfermeiros. Como olhas, a 2000km de distância, para estes números?
Tiago Esteves - Acredito que para condições ideais, segundo as normas da OMS seja esse o ratio, mas Portugal não se pode pagar esses números e como vês não é por falta de pessoal, uma vez que existem alguns milhares de enfermeiros no desemprego, não sei bem os números, mas já devemos ser muitos...Como te dizia anteriormente "ainda sou desse tempo" e infelizmente o discurso não mudou. Fico triste porque quem olha para estes números fora do contexto, não percebe porque tem tanta dificuldade em arranjar emprego…
Bruno Martins - A última. O que mais sentes falta de Portugal?
Tiago Esteves - Esta é a pergunta mais fácil...da família, da mulher e da filha...os pais, os irmãos, os amigos sente-se falta mas com o tempo, como se diz aqui "il faut vivre avec" (que em grosso modo quer dizer... tem de se viver), foi uma decisão muito ponderada, reflectida e pesando os prós e contras, valeu a pena. Repara, não me posso queixar, vou regularmente a casa (uma vez por mês - 6/7 dias seguidos), fora as férias. Ando numa plataforma aérea constante, faço turnos de 12 horas e como somos quase todos estrangeiros no meu serviço, ajudamo-nos mutuamente.
Quantas vezes um colega que trabalha em Lisboa ou no Porto consegue ir a casa por mês? Não me posso queixar! Quanto ao resto, a comunidade portuguesa está muito presente, há comida , vinho, cerveja, restaurantes, cafés e muitos amigos portugueses com quem partilhar momentos e experiências. Sentes-te quase em casa, mas a 2000 quilómetros dela. A internet e os voos low-cost vieram facilitar a adaptação e parece que vim ontem mas já lá vão 15 meses...Sinto-me bem, integrado, valorizado e muito mais capaz porque aqui aprende-se muito a nível pessoal e profissional.
Resta-me agradecer ao Tiago pela enorme disponibilidade concedida na concepção da entrevista e pelos inúmeros pontos que focou, permitindo-nos obter uma melhor percepção da realidade vivida por um enfermeiro emigrante e enviar alguns alertas para que as entidades competentes comecem a abordar a emigração em Enfermagem com outra sensibilidade. Um muito obrigado Tiago e uma palavra de apreço a todos os “tiagos” espalhados pelo mundo, na certeza que estão a orgulhar aquilo que é indubitavelmente reconhecida e valorizada a nível mundial, mas que paradoxalmente não acontece no próprio país que a tutela: a Licenciatura de Enfermagem leccionada em Portugal.
Entrevista retirada do Blog Plano de Cuidados: http://planodecuidados.blogs.sapo.pt/107263.html
Tiago Esteves - Procurar, explorar e preparar a ida para o estrangeiro obriga a uma preparação pessoal e intelectual. Falar a língua é muito importante, essencial para não se sentir "emigrante" no país de acolhimento e "estrangeiro" no país de origem. Nesta altura é importante perceber que o desemprego é um problema comum a toda a Europa e que as propostas não chegam de um dia para o outro, é preciso ter paciência e não desesperar. Ver o tempo como um tempo de preparação para um novo desafio que se segue.
Quanto a OE, mais uma vez penso que acordou tarde de mais para este problema, aliás como tantos problemas que houve durante estes 12 anos...lutas fora de timing. Fico estupefacto (não surpreendido) ao ver 10 euros mensais de quota (actualização em 2014) quando se tem por salário base 1020 euros e vem-me à memória uma frase do estilo: “O que é que a Ordem dos Enfermeiros fez por mim?! Muito pouco, nada...nem antes...nem depois...nem agora...”
Em relação à Suíça, é um país muito caro, as compras de Supermercado levam uma boa parte do salário mensal. Os bens essenciais têm preços exorbitantes comparados com o nosso país…para se ter uma noção um big-mac (da conhecida marca americana) custa á volta de 13chF(10.30 Euros), trata-se de uma comparação usada para ver o custo de vida de um país.
Outro dos problemas é o alojamento, existe uma carência enorme nesta área, primeiro por causa da emigração e segundo porque aqui o arrendamento é maioritário, uma vez que poucos são os suíços proprietários, um Estúdio ronda os 1000chF (cerca de 800 euros) e um T1 1700chF (cerca de 1350 Euros), são valores aproximados de mercado, mas normalmente os Hospitais têm residências próprias para os funcionários que chegam…Não venham sem alojamento, porque a busca pode significar meses à procura e às vezes sem sucesso!
Andar de transportes públicos é a melhor solução aqui na Suíça, uma vez que vão a todo lado. Boas ofertas, bons horários mas a preço elevado para quem vem de férias…diferente para quem reside cá, pois existe um cartão anual (1/2 tarif) que custa 165 chF(130 euros) que te permite viajar sempre a metade do preço!
Claro que há muito aspectos positivos, estamos no centro da Europa e isso permite-te passear de avião e comboio a preços mais baixos do que Portugal. Em suma o custo de vida é caro (muito caro mesmo) mas proporcional ao que se ganha, com bom senso ainda dá para poupar alguns francos e aproveitar a vida!
É um país lindo como muito para visitar onde os portugueses são muito apreciados!
Bruno Martins - Um estudo de 2010, realizado pela ACSS junto de 50 hospitais, verificou que naqueles hospitais faltavam 3.500 enfermeiros. Como olhas, a 2000km de distância, para estes números?
Tiago Esteves - Acredito que para condições ideais, segundo as normas da OMS seja esse o ratio, mas Portugal não se pode pagar esses números e como vês não é por falta de pessoal, uma vez que existem alguns milhares de enfermeiros no desemprego, não sei bem os números, mas já devemos ser muitos...Como te dizia anteriormente "ainda sou desse tempo" e infelizmente o discurso não mudou. Fico triste porque quem olha para estes números fora do contexto, não percebe porque tem tanta dificuldade em arranjar emprego…
Bruno Martins - A última. O que mais sentes falta de Portugal?
Tiago Esteves - Esta é a pergunta mais fácil...da família, da mulher e da filha...os pais, os irmãos, os amigos sente-se falta mas com o tempo, como se diz aqui "il faut vivre avec" (que em grosso modo quer dizer... tem de se viver), foi uma decisão muito ponderada, reflectida e pesando os prós e contras, valeu a pena. Repara, não me posso queixar, vou regularmente a casa (uma vez por mês - 6/7 dias seguidos), fora as férias. Ando numa plataforma aérea constante, faço turnos de 12 horas e como somos quase todos estrangeiros no meu serviço, ajudamo-nos mutuamente.
Quantas vezes um colega que trabalha em Lisboa ou no Porto consegue ir a casa por mês? Não me posso queixar! Quanto ao resto, a comunidade portuguesa está muito presente, há comida , vinho, cerveja, restaurantes, cafés e muitos amigos portugueses com quem partilhar momentos e experiências. Sentes-te quase em casa, mas a 2000 quilómetros dela. A internet e os voos low-cost vieram facilitar a adaptação e parece que vim ontem mas já lá vão 15 meses...Sinto-me bem, integrado, valorizado e muito mais capaz porque aqui aprende-se muito a nível pessoal e profissional.
Resta-me agradecer ao Tiago pela enorme disponibilidade concedida na concepção da entrevista e pelos inúmeros pontos que focou, permitindo-nos obter uma melhor percepção da realidade vivida por um enfermeiro emigrante e enviar alguns alertas para que as entidades competentes comecem a abordar a emigração em Enfermagem com outra sensibilidade. Um muito obrigado Tiago e uma palavra de apreço a todos os “tiagos” espalhados pelo mundo, na certeza que estão a orgulhar aquilo que é indubitavelmente reconhecida e valorizada a nível mundial, mas que paradoxalmente não acontece no próprio país que a tutela: a Licenciatura de Enfermagem leccionada em Portugal.
Entrevista retirada do Blog Plano de Cuidados: http://planodecuidados.blogs.sapo.pt/107263.html