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NothEast London, Mike H. e a Saúde Mental

Na minha passagem por Inglaterra solicitei um dia à minha General Manager que me deixasse ir durante uma semana a uma outra unidade de saúde ali prós lados de North East London. O meu objectivo era conhecer os diferentes modelos de gestão e implementar melhorias no meu próprio departamento.

Como estamos em UK, a simpatiquíssima Dra. Paula Friend não só me autorizou a ir como fui com todas as despesas pagas, incluindo a estadia num hotel 4 estrelas.

Essa semana veio a revelar-se imensamente rica na minha formação pessoal como gestor (Manager). Uma coisa são os livros de gestão, os modelos teóricos, os chiavenatismos, os druckerismos.. outra é a prática, os constantes problemas do dia-a-dia num ward com 30, 40, 50 cirurgias.

Prometo que irei escrever crónicas sobre gestão, mas hoje vou apenas contar uma conversa interessante que tive com um manager de um hospital à hora do almoço.

---

Estava eu na fila do refeitório, indeciso entre um ´patato jack´ e uma carne de qualquercoisa com molho escuro (a sério, não tentem comer em Inglaterra!), quando me apresentam o Michael. Era assim um rapaz pelos seus 45 anos, olhos azuis e cabelo pró grisalho. Simpático qb e de acordo com o cartão que trazia na farda ´Manager´.  Ele era um dos managers daquele hospital que por acaso não era o que eu estava a visitar mas tinha o refeitório era comum. Vi logo ali uma oportunidade de sacar informações preciosas.

Sentamo-nos todos a almoçar (eu acabei por me decidir por uma sopa e fruta).
Como não podia deixar de ser, parti logo prá tagarelice porque aquele povo almoça enquanto o diabo esfrega um olho para voltar a correr pró trabalho. Infelizmente desconhecem completamente o siginificado de ´almoçarada´, ´café´, ´digestivo´..
Mas porque raio comem eles uma sandes sentados à frente do computador?  Alguém devia explicar aos british que a hora do almoço é uma instituição e serve essencialmente para queimarmos pelos menos hora e meia das 8 horas de trabalho diária. Incultos, enfim.. Adiante!

“Mike, reparei que o vosso hospital tem muitas especialidades mas não tem saúde mental!”

“Bem, este é um hospital generalista. Não temos aqui doentes do foro mental. Há instituições especializadas para esse tipo de pacientes.”

“Mas, fala-me um pouco sobre o assunto.. Eu sei que as recomendações da WHO (World Health Organization) são no sentido da integração de psychiatric wards nos general hospitals assim com a existência de staff especializado, enfermeiros, médicos, assistentes sociais..”.

Mike, explicou-me então que em 1999 o governo estabeleceu o National service framework for mental healthcom um plano de 10 anos para alteração dos serviços mentais. Este programa foi optimizado com um novo programa chamado New Horizons. A ênfase passou a ser dada às instituições de primary care (home and community care). Com isto investiu-se sobretudo na prevenção primária permitindo poupar cerca de £70 biliões com tratamentos e internamentos. A ideia seria reter o mais possível os utentes com alterações da sua saúde mental junto de casa, em vários níveis de cuidados comunitários. A breve prazo pretendia-se vir a financiar ´care clusters´ fora do NHS (Serviço Nacional de Saúde) com profissionais qualificados pagos de acordo com os resultados. Ao nível dos cuidados secundários, existiam sobretudo instituições de saúde mental, sendo pouco frequentes os hospitais gerais com uma unidade de internamento psiquiátrico.

“Então o hospital não tem nenhum enfermeiro especializado em saúde mental?’

“Não Alex. Aqui em UK os enfermeiros de saúde mental não podem trabalhar como enfermeiros generalistas e vice-versa. Existe um curso de enfermagem só para saúde mental.”

Esta parte eu já sabia. A especialidade de enfermeiro de Saúde Mental tirada cá em Portugal, não é válida em Inglaterra. Curiosamente nunca vi a nossa Ordem dos Enfermeiros preocupada com os processos de equivalência das especialidades na União Europeia numa altura em que milhares de enfermeiros estão a ser obrigados a ter de sair do país.

“Mas então não há nenhum grupo de enfermeiros a trabalhar indicadores de saúde mental no vosso hospital?”

O Michael não compreendeu a minha questão.

“Alex, nós não temos saúde mental no hospital.”

“Não me devo ter explicado bem. Uma em cada 4 pessoas internadas num hospital geral sofre alterações da sua saúde mental. Isto são números oficiais. Por exemplo, cerca de 60% das pessoas com mais de 65 anos internadas nos hospitais acabam por desenvolver algum tipo de perturbação mental durante o seu internamento. Não achas que é importante ter um grupo de enfermeiros ou profissionais de saúde a estudar e trabalhar estes doentes?”

Nessa altura o Michael pareceu-me hesitante.

“Bem, quando um paciente tem uma alteração do foro mental, chamamos o psiquiatra de ligação para o observar”

“Compreendo Mike. Mas estou a falar de uma forma mais abrangente.. Já pensaste nos benefícios de teres um ´circulo de qualidade´ dedicado só a estudar indicadores nesta área e a implementar programas de melhoria? Por exemplo, há dezenas de artigos que comprovam a existência nos doentes de níveis elevados de ansiedade no pré-operatório, sendo que muitas práticas foram adoptadas por enfermeiros para os reduzir. A redução dos níveis de ansiedade teve implicações directas na menor analgesia no pós-operatório e no tempo de internamento. Isto está comprovado em estudos europeus e americanos”.

O Mike ficou a olhar para mim sem perceber onde eu queria chegar. Continuei.

“Agora imagina que a tua equipa de enfermeiros se dedicava a estudar as situações que potencialmente causam num internamento alterações da saúde mental nos doentes: ansiedade, stress, dificuldade em dormir, elevado tempo de internamento, situações de amputações, mastectomias, colostomias, depressões, etc.. Estes enfermeiros/profissionais de saúde, criavam um conjunto de indicadores de qualidade da saúde mental nos doentes internados que seriam fáceis de analisar pela gestão e com isso estabelecer programas de análise custo-benefício. Toda a gente ganhava, os doentes porque melhoravamos os cuidados e a sua qualidade de vida, os enfermeiros porque eram envolvidos, a gestão porque passava a ter indicadores com que negociar financiamentos futuros!”

Nesta altura o Mike olhou para o relógio e disse-me em jeito de quem chegou ao fim do prolongamento de jogo.

“I got to go now. Nice talking to you Alex.”

E foi-se..

Eu ainda fiquei uns minutos a terminar a sopa e a pensar no assunto. Depois saí, atravessei o corredor, desci as escadas e fui ter ao parque de estacionamento.

Tirei um café da máquina e fiquei ali parado a pensar. Só então me apercebi que o parque era enorme. Por mais estranho que pareça não se via ninguém fardado no parque de estacionamento a passear de copo de café na mão ou a fumar cigarros.

“Estes  british são mesmo muito estranhos!”

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