Antes de mais uma pequena apresentação. Somos um jovem casal com um filhote (Tiago) que esta prestes a fazer dois aninhos. Somos ambos enfermeiros desde 2005 e tínhamos um contrato estável (a tempo indeterminado) no Hospital de Sao Joao, trabalhando os dois na altura no serviço de medicina. Quem conhece a realidade dos serviços de medicina em Portugal (no geral) já ve respondida em parte, no final da ultima frase, o porque da nossa decisão de emigrar. A nossa decisao de "mudar de ares" deveu-se sobretudo ao descontentamento em relacao a nossa realidade profissional em Portugal.
Com 4 anos de experiência e uma pos graduacao, sem qualquer beneficio em relacao a qualquer recém licenciado (embora tenhamos a certeza que os nossos empregadores discordarao dizendo que tinhamos um emprego estavel e que isso deveria ser suficiente para estarmos felizes e contentes) e principalmente sem perspectivas de futuro, ao mesmo tempo fartos de sermos "escravos" num servico de medicina interna onde apesar da excelente equipa (incasaveis) as condicoes de trabalho eram digamos que dificeis. No mesmo barco e com a mesma intencao de emigrar estava a nossa colega
Isabel que ate hoje tem acompanhado a nossa jornada.

Primeira etapa - Guernsey
Na altura estavamos interessados em emigrar para a Irlanda (um pais em forte crescimento), onde o salario era bom (melhor que no reino unido) e as condicoes
pareciam favoraveis (facilidades de estudo, progressao na carreira, etc...), preparamos curriculos, traducoes de documentos, registo na Irish Nursing Board, na
altura com a suposta ajuda de uma agencia de recrutamento (Best Personnel) que de ajuda ofereceu muito pouco, estando apenas interessados (e nem sequer muito) em recrutar para lares de idosos - o que nao estavamos interessados. Entretanto a crise abateu-se sobre a Irlanda (estavamos em 2008) e os cortes da despesa publica levou a que a oferta de emprego baixasse drasticamente e nao encontramos emprego na Irlanda.
Ao mesmo tempo comecamos a olhar para o vizinho Reino Unido como forte hipotese, repetimos o processo, desta vez para o registo no NMC e comecamos a estudar ofertas de emprego no Reino Unido. Contactamos duas agencias de emprego atraves da internet e marcamos 3 entrevistas (2 em Londres e 1 em Bradford) para a mesma altura e la fomos. Um parênteses para falar da  experiencia diferente da primeira -ambas foram muito prestaveis durante todo o processo. Das
3 entrevistas resultaram 3 ofertas de emprego e escolhemos a que nos pareceu melhor na altura que foi para irmos para Guernsey (uma das ilhas do canal da mancha), que nunca tinhamos sequer ouvido falar. Segui-se uma viagem a Guernsey para uma entrevista "formal" no hospital com as nossas futuras chefes que foram bem sucedidas e la ficamos por 2 anos e meio.

A mudanca para Cambridge
A vida de emigrante nao 'e facil ao contrario do que alguns possam pensar, o estarmos longe da familia, dos amigos, dos lugares que conhecemos e que onde
gostamos de ir, para nao falar das temperaturas mais amenas, do sol e da praia tudo isso pesa. Em 2011 nasceu o nosso filhote, momentos de felicidade claro mas tambem de preocupacao porque nao foi facil uma vez mais estarmos longe da familia nessa altura, e findada a licenca de maternidade (cerca de 3 meses com full pay, mais 3 meses half pay, e possibilidade de tirar mais 3 meses mas estes ultimos sem vencimento) e sendo impossivel (quer pelo custo quer pela questao do horario) arranjar childcare para o nosso filho (na pequena ilha de Guernsey) e nao estando na disponilidade de trabalharmos em turnos opostos (o que significava que quase nao nos viamos) decidimos procurar outra paragem. Desta vez mais 'a-vontade com o Ingles e conhecendo melhor o NHS, concorremos a diferentes posicoes atraves do NHSJOBS para zonas que nos interessariam mais, e tivemos a sorte de ambos termos tido propostas
de emprego na mesma Trust e na mesma altura e para aquele que era o nosso hospital de preferência - Papworth (o maior centro cardio-toracico de inglaterra, onde
fizeram o primeiro transplante de coracao no UK e no estado da arte na area cardio-toracica, com diversos premios em termos de recursos humanos, estando mesmo no top40 melhores locais para trabalhar no UK) - a cerca de 10 milhas de Cambridge , sendo que tambem tinham creche que abria a horas de funcionamento do hospital (que no entanto nao tinha vagas ;( )
As condicoes nao podiam ser melhores e mudamo-nos entao em 2012 para o largo de Cambridge, adoramos a cidade e as redondezas, o facto de podermos viajar para portugal com mais facilidade (Stansted fica a 45 min) e podermos ir a Londres com frequencia (a 1hr de distancia) sem termos que viver mesmo em Londres ou "comute" horas a fio todos os dias.

A vida com criancas pequenas
O Tiago esta prestes a fazer 2 anos, em termos de childcare encontramos alternativa a nursery (creche) do hospital, ficando numa childminder (ama) - que no fundo
funciona como muito identico a uma nursery. Aqui em Inglaterra ha regras para tudo e a proteccao de menores tem muita forca. Existem orgaos reguladores - neste caso o offstead -  que fiscalizam quer escolas, infantarios, amas e outros locais que acolham criancas e que atribui licensa para estes actuarem, sendo que as regras que impoe sao identicas para todos. No grupo de idade do Tiago as educadoras tem que ser 1 para 3 no maximo ( se tiverem 4 criancas tem estar 2 educadoras sempre presentes e por ai adiante) e para se ser educadora tem que se ter formacao especifica na area,
o que nos deixa mais descansados.  Onde ele esta temos a facilidade de o podermos deixar fora de horas normais, quando estamos os 2 a fazer long day por exemplo ele pode ficar ate que ambos saiamos o que nos facilita. Ainda assim por vezes nos vemos aflitos com trocas por causa das noites ou fim-de-semana - mas sao coisas que nos enfermeiros ja estamos habituados e que nao difere da realidade em Portugal - e muitas vezes nos tem valido a ajuda da madrinha Isabel.

Se nos arrependemos alguma vez de termos saido de Portugal? Numa palavra: nao. Hoje podemos dizer que somos realizados profissionalmente, temos progredido na carreira e somos reconhecidos nos nossos servicos. Em termos de formacao profissional, esta 'e financiada pelo Hospital - desde que seja de importancia para o servico - nao so em termos de custos, mas tambem em tempo (muito diferente de Portugal). O feedback que temos tido e extremamente positivo, de falar por exemplo, que depois de estarmos em Guernsey a direccao do Hospital decidiu enviar uma comitiva a Portugal (Porto)
para recrutar mais enfermeiros portugueses. E fala-se que o nosso actual hospital pode estar prestes a fazer algo do genero, havera melhor reconhecimento do que este?

Que conselhos dariamos a quem pondera ou se prepara para se fazer "ao caminho"?
- Prossigam mais do que uma hipotese, e depois escolham a melhor para voces.
- Preparem-se para a entrevista, elas sao decisivas para a contratacao, existe muita informacao na internet sobre como prepar para ume entrevista. Uma dica: nao vao de calcas de ganga!
- Negoceiem o vosso paypoint, alguns hospitais por nao terem experiencia no UKoferecem-vos entrada como recem-formados o que nao devia acontecer.
- Casais com filhos ou possibilidade de virem a ter nao 'e o fim do mundo,
Inglaterra tem um sistema de ensino muito bom e muitos hospitais (trusts) para alem de terem creches, sao sensiveis as necessidades das familias com filhos pequenos.
- Casais em que apenas um dos elementos 'e enfermeiro: a realidade de emprego em Inglaterra 'e muito diferente da Portuguesa ( menos de metade da taxa de desemprego 7,8% contra 17,6%), se falarem minimamente Ingles e estiverem disponiveis para trabalhar numa area diferente da vossa (mas nao necessariamente) encontraram emprego em menos de um mes.

"O caminho faz-se caminhando", boa sorte!

Marlene e Flavio.

http://www.nhscareers.nhs.uk/working-in-the-nhs/pay-and-benefits/agenda-for-change-pay-rates/