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Trabalhar em Timor Leste

Timor-Leste parte 2 

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"Within twenty years you will be more disappointed by the things you did not do than by the things you made. So get rid of the easiness. Sail away from safe harbors. Take the adventure winds in your sails. Explore. Dream. Discover. "
                                                                                                                            (Mark Twain)


Segundo me recordo em Abril ou Maio de 2011 foi publicado no Site da Diáspora um artigo em que eu retratava algumas das minhas aventuras por terras do sol nascente, neste, faço uma alusão não só às várias experiências pelas quais até então tinha passado, mas também a influência que estas tiveram em mim. Lá, retratei parte do tipo de trabalho que estava a desenvolver, as características locais e a grandiosidade da simplicidade local na qual eu tive a honra de estar inserido. Também me lembro que quando escrevi esse artigo eu estava sentado a secretaria da minha casa em Los-Palos (cidade capital do distrito de Lautem no estremo Oriental da ilha de Timor), na companhia de lagartos, ratos, insectos e muitas outras variedades de bicharada nocturna que possam ou não imaginar, a luz de um ténue candeeiro alternado pela luz das velas e na companhia de um silêncio maravilhoso que apenas eram possível numa noite em uma terra com aquelas características.

Agora, passado quase um ano desde o início da minha incursão timorense aqui estou eu a escrever a conclusão desta aventura. Desta vez, na minha residência em Portugal, no conforto do meu sofá, ao calor de um aquecimento eléctrico, a luz de um candeeiro eléctrico sem falhas, com todos os barulhos nocturnos inerentes ao movimento de uma cidade de médio tamanho.

Mas não poderia começar sem que antes me permitam agradecer a todos os amigos e colegas que sempre me deram imensa for;a principalmente nos períodos de maior dificuldade. De Portugal a Timor passando por Londres, Genebra, Paris, Índia, Singapura, Indonésia, NY, LA e Buenos Aires, a todos os que tiveram comigo em todos os momentos, o meu mais sincero obrigado.

Da mesma forma, não poderia deixar de agradecer à Diáspora que sempre fez questão de se manter em contacto comigo e de divulgar as minhas experiências. E a todos os que através desta se cruzaram com os meus relatos e ficaram a conhecer uma pequena fracção de toda a imensidão de experiências pelas quais estava a passar.  Desses, dou destaque aqueles que fizeram questão de contactar comigo e que procuraram através das minhas opiniões ir ao encontro das suas ambições humanitárias. Espero que as tenham atingido ou estejam no bom caminho para tal.

Agora, passemos ao corpo do artigo propriamente dito. Apenas por precaução, e na semelhança do que eu já acautelei no artigo anterior, reforço o alerta aos leitores para a minha falta de aptidões ao nível da língua Portuguesa. Não se trata de um desrespeito nacionalista, mas antes de um mal que eu posso descrever como crónico e sem cura possível. Desta forma, face a minha capacidade diminuta para redigir textos em português, todos os erros ortográficos, estruturais e sinaléticas que encontrarem poderão ser inteiramente atribuídos ao autor, sendo que aceitarei qualquer tipo de crítica, seja nesse sentido como direccionada para o seu conteúdo.

Neste momento devem estar a perguntar-se o porquê da citação no inicio deste artigo. Ora, nenhum momento seria melhor para descrever o âmago das minhas motivações para esta aventura do que no rescaldo da mesma. Assim, em vez de usar algum texto meu que pode ser cotado como dúbio ou até erróneo prefiro usar uma frase do nosso amigo Mark Twain, autor dos nossos velhos conhecidos Tom Sawyer e Huckleberry Finn em que este previne que, para evitar desapontamentos ou frustrações futuras, devemos seguir as nossas ambições, mesmo que estas nos levem para caminhos desconfortáveis e desconhecidos. Essa ideia pode ser considerada como umas das minhas filosofias de vida, e foi este pensamento que me levou a largar todo o conforto que eu tinha como garantido em Portugal par me lançar para locais desconhecidos como Inglaterra e mais tarde Timor.

É verdade que, ao ir para Timor, abri mão de muitos confortos; um bom salário, uma carreira que parecia estar a ascender, uma casa recém-alugada e com todos os confortos considerados como bons para a nossa realidade, bons amigos e família. No entanto, de entre todas essas cedências, foram apenas a família e os amigos que eu deixei para traz que eu tive realmente pena deixar. Perdi muito dinheiro, perdi todos os confortos acima citados, vi-me a viver em condições que estavam longe de ser as ideais para os nossos padrões, mas foram todos esses desafios que deram mais gosto a esta aventura.

Se estiverem a pensar que esta deve ter sido uma grande lição de vida, têm razão, esta foi de facto foi uma enorme experiência de vida. Incontáveis desafios nos aparecem pela frente, primeiro, somos constantemente fustigados por problemas de saúde ou o risco destes aparecerem, segundo, desafios intelectuais e laborais e terceiro, somos emocionalmente levados a situações nunca antes confrontadas.

Em primeiro lugar do ponto de vista físico, o risco constante de dengue, malária, ou parasitas intestinais, sendo que os repelentes e as vacinas tropicais eram os nossos melhores amigos. É verdade que passado algum tempo acabamos por nos esquecer dessas seguranças, contudo, os riscos estavam sempre presentes, ou nos arrozais aguados que estavam carregados de mosquitos, ou no gelo das nossas bebidas que vinham de fontes dúbias ou nas lixeiras e saneamentos a céu aberto que nem imagino os tipos de doenças poderiam conter. Aqui a falta de recursos era de facto bem sentida, sendo que qualquer problema minimamente grave envolveria a evacuação imediata para Darwin para receber os cuidados de saúde necessários.

Neste ponto tenho a referir algumas das minhas experiências locais como o caso de uma grande disenteria contra a qual precisava de antibióticos, ou quando queimei grande parte da minha perna com água a ferver na localidade de Viqueque (capital do distrito de Viqueque margem sul da ilha de Timor) e precisei de Sulfadiasina de Prata, ligaduras, e pomadas de betametasona, ou quando fui mordido por um cão vadio e precisei de vacinas contra a raiva, ou o momento em que cortei profundamente um dedo e precisei de ligaduras para estancar a ferida, ou quando caí de umas escadas e abri um pé tendo mais tarde a ferida infectado. Enfim, foram inúmeras as peripécias neste campo, o que me deixava de facto confiante em todas elas era que apesar da evidente falta de recursos materiais, tinha um conjunto de pessoas, colegas MdM, amigos de organizações variadas (UN, IPAD, Ministeriais) em Baucau ou em Dili que sempre se aprontaram a ajudar. Sendo que os serviços de saúde locais, apesar de muito limitados, sempre fizeram todos os possíveis para me ajudar (com destaque para os médicos cubanos, que sempre foram fabulosos), como no caso em que eu tive de levar um caríssimo colega e amigo meu para o hospital com malária eles tudo fizeram para ajudar.

Do ponto de vista laboral, este tal como eu já demonstrei no artigo anterior, não se trata de um trabalho estanque. Ou seja, aqui não nos limitamos a prestar cuidados de saúde, sendo que até nem é isso que se quer directamente. Aqui, o desafio intelectual foi constante, fui buscar conhecimentos e capacidades há muito guardadas ou até desconhecidas para mim. Fiz gestão de recursos humanos e materiais, participei directamente em campanhas de âmago nacional, reuni com parceiros como a UNICEF, OMS, UNESCO, EU, IPAD entre muitas outras para desenvolver o meu trabalho, participei na criação de relações inter-institucionais com o Ministério da Saúde, serviços distritais e locais de saúde, assim como com chefes de aldeias e autoridades locais, comprei logística, recrutei recursos humanos e treinei-os conforme as nossas normas de trabalho, organizei calendários de trabalho anuais e orçamentos, participei na criação de sistemas de informação, e formei, tanto em ambiente de terreno como em contextos mais formais voluntários e profissionais de saúde. Posto isto, foi muito mais do que uma simples prestação de cuidados, foi todo um despertar de aptidões que caso contrário em outro contexto nunca seria possível. E tudo isto sem esquecer as adversidades locais que constantemente desafiavam a nossa capacidade de adaptação.

Foi um autêntico alargador de horizontes, um "abrir de olhos", que me deixou muito mais desperto para muitas outras possibilidades ao nível de trabalho, e que me permitiram traçar um novo caminho e criar um novo conjunto de objectivos a perseguir. Tudo isto, claro, apenas foi possível com a ajuda de uma partilha de ideias com todos os colegas e amigos que se encontrou ao longo do meu caminho e cujas diversas áreas de saber me permitiram adquirir os conhecimentos e aptidões para confrontar tais desafios.

Por fim, o desafio emocional. Nesta altura, reconhece-se perfeitamente que este está longe de ser um contexto de trabalho comum. Aqui trabalhamos, convivemos e vivemos com os nossos colegas de trabalho. Em situações difíceis e de grande pressão os ânimos ficam facilmente a flor da pele, aspectos em nos mesmos se revelam, defeitos que muitas vezes têm de ser corrigidos. Este foi o meu caso, muitos dos meus aspectos menos agradáveis se revelaram (como sendo o caso de ser um grande rabugento ;-p) e que reconheci como sendo um alvo a abater. Em um contexto em que o trabalho se confunde facilmente com a vida pessoal, a capacidade para conseguirmos criar uma barreira entre ambos torna-se mais difícil. Sendo que e necessário um esforço extra e uma maior capacidade de tolerância para o conseguir. Claro que aqui voltam os nossos amigos que sempre se mostram prontos a nos ouvir e aconselhar.

Quanto à separação da nossa família e amigos não gastarei nenhum do meu tempo porque já todos devem ter imaginado o que e estar separado destes durante um ano. Não foi fácil.

É verdade que em Timor estava sempre sujeito a doenças, não tinha água quente para tomar banho, não tinha electricidade 24 horas por dia, não tinha televisão ou outro tipo de comodidades, mas tal como se devem ter apercebido um ponto crucial e comum em todas as experiências descritas são as amizades criadas. Aqui estamos todos a passar pelo mesmo, uns mais do que outros, mas essencialmente todos no mesmo barco. Sendo que a relação que se cria entre nós é bastante forte. Lá criei a minha família de Timor, sejam os elementos provenientes de Portugal, Timor, Indonésia, Brasil, EUA, UK, Paris Austrália e sabe-se lá de onde mais as amizades que se criaram e ficaram são fantásticas.

Com o meu regresso e do pouco que estou a viver estou a estranhar muita coisa, coisas que interiormente dava imenso valor já não dou tanto, coisas que não valorizava passei a valorizar. Realidades que me passavam um pouco ao lado por serem comuns como o caso deste consumismo desenfreado começaram a ser desconfortável para mim. E as pessoas, o descontentamento constante que eu encontrei aqui aquando do meu regresso, esse foi o pior de todos os choques. Irá ser um cliche o que eu vou dizer, e penso que já o referi anteriormente no último artigo, no entanto, vale a pena reforçar. Eu vim de um país pobre, um dos mais pobres do mundo onde muita gente não tem nada, vive com nada e com o nada que tem vivem alegres e partilham-no, nem que seja um sorriso (coisa rara nos dias que correm nesta terra pelo que vi). Eu sei que me tenho de adaptar ao contexto histórico, político e social da nossa sociedade, mas meus senhores pessimismo em excesso e como cancro e apenas se ira alastrar. Penso que as pessoas que conheci dariam uma grande lição aos nossos nacionais.

Agora, sem querer estender-me mais correndo assim o risco de me tornar enfadonho, termino por agradecer e congratular mais uma vez a Diaspora pelo trabalho fantástico que esta a desenvolver, especialmente pela ajuda que me está a dar na minha re-integração em terras de senhora majestade. E aos leitores, os meus cumprimentos e boa sorte no cumprimento dos vossos objectivos, especialmente se forem internacionais, espero que vos tenha clarificado e inspirado um pouco com este texto.

Um grande abraço Vasco Carvalho


Artigo da autoria do Vasco

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Caros amigos e colegas da Diáspora, estejam vocês em Portugal, Inglaterra ou em qualquer outra parte do mundo.
Desde já gostaria de dar os meus mais sinceros agradecimentos aos meus amigos da Diáspora por não se terem esquecido de mim mesmo estando eu tão afastado, literalmente no outro lado do mundo. E como não poderia deixar de ser, dar-vos os meus parabéns pelo excelente trabalho que têm feito com essa iniciativa que segundo me estou a aperceber esta a percorrer um caminho repleto de sucesso.


Foi um privilégio para mim ter estado presente naquele jantar em 2009 no café FCP, se não me engano, em Clapam Junction, no qual nos foi apresentado pela Catarina, Sandra e Nuno este projecto fantástico. Para os colegas que pretendam “saltar” para uma vida melhor e fazer do globo a sua casa e o seu local de trabalho expandindo assim horizontes, conhecimentos e mentalidades, à que ajudar e dar todo o apoio necessário. Nós que já demos este primeiro passo sabemos a dimensão dos desafios á nossa adaptabilidade que tais mudanças podem oferecer, e é na perspectiva desse conhecimento adquirido e na ajuda que este possa dar que eu vejo esta iniciativa da Diáspora a actuar e desta forma a merecer todo o meu respeito e admiração. 

Agora, no sentido de evitar qualquer tipo de confusão ou questões acerca de quem é esta personagem e o porquê de ela estar para cá a escrever um texto que constitui uma autêntica violação do bem falar português, iniciarei com uma breve apresentação com o intuito de saberem quem sou e vos mostrar o meu ainda curto e modesto percurso que de momento esta a culminar com o texto que escrevo agora.

Para quem não sabe, e dado o número de novos aderentes á Diáspora acredito que sejam muitos, o meu nome é Vasco Carvalho e tal como muitos de vós decidi tentar a minha sorte em outro local que não Portugal. Tornei-me enfermeiro em Viana do Castelo e a partir de 2006 até 2008 trabalhei em Portugal mais concretamente no Algarve, sem duvida foram 2 anos fantásticos, boa terra, bom clima, gente maravilhosa. Contudo e apesar de todas as qualidades inerentes a essa terra, sempre tive a intenção e o desejo de saltar para fora do país, conhecer culturas, costumes e ideias diferentes. Assim e sempre com esse pensamento na cabeça, constitui algo que posso considerar como o meu plano de vida a curto / médio prazo. Nesse plano estavam presentes as possibilidades de ir trabalhar para um país de língua inglesa e fazer uma missão. 

Ora em 2008, depois da minha passagem por terras algarvias, decidi ganhar coragem e dar o passo mais difícil para quem se inicia nesta vida de emigrante, o primeiro. Agarrei todas as oportunidades que me apareceram, Dubai, Irlanda, Inglaterra entre outros. Com sorte surgiu a chance de agarrar um lugar em Londres, nomeadamente em South Kensington no qual exerci funções até Janeiro de 2011. Aí tive o privilégio de conhecer e rever pessoas fantásticas, viajar imenso com um conjunto de amigos os quais lhes tenho grande estima. A nível profissional evolui imenso, o que no início me pareceu sem sentido e ate desmotivante mais tarde se revelou muito positivo permitindo um salto qualitativo considerável. Com o passar do tempo e no momento em que estava a fazer 2 anos de casa em Londres, comecei mais uma vez a ter a sensação de que estava na hora de mudar e perseguir mais uma vez os meus objectivos. Desta feita concorri para uma ONG na qual me encontro agora a exercer funções mais concretamente em Timor Leste.

Ha tempos fui questionado pelos nossos colegas da Diáspora para quando lançaria alguns dos meus relatos desta terra tão diferente. Com isso em vista decidi criar este pequeno texto a ilustrar um pouco do muito que estou a viver.

Já alguma vez tiveram a sensação de que estão a viver algo tão forte, tão intenso, de tal forma rico que nem com todas as palavras existentes no dicionário conseguiriam dar uma descrição precisa dos acontecimentos? Pois é precisamente isso que eu estou a passar neste momento.

Cheguei aqui a Timor há precisamente 4 meses para exercer as funções de enfermeiro formador, um trabalho nas aldeias bem afastado da capital ou de tudo o que possamos considerar de confortável e “civilizado”. O meu dia de trabalho começava por carregar logística em um todo o terreno e arrancar para a estrada, ou algo parecido, uma vez que a nossa concepção de estradas muda completamente uma vez neste país. Depois de 2 ou mais horas de caminho em off road total com o carro a atolar na lama ou nas passagens dos rios numa fase regular chegamos ao local de trabalho. Descarregamos todo o material e o pessoal e damos inicio aos cuidados a prestar a estas populações tão carenciadas. Nestes locais vemos pobreza nunca antes presenciada por mim, carências a todos os níveis mas ao mesmo tempo uma vontade de fazer e vencer inabaláveis. Aprendi a relativizar, a questão coloca-se, como pessoas com tão pouco podem ser tão ou mais felizes, alegres e prestáveis que as gentes do primeiro mundo? Nomeadamente as vidas que presenciei em Portugal e em Inglaterra? Estranho. Daí vi que tudo é relativo, as nossas noções de essencial, conforto e necessidade ficam de certa forma abaladas. Se nada temos, o pouco que recebemos é sempre tido em grande estima, se muito temos sempre iremos querer mais e mais até atingir a insatisfação permanente. Aqui vi que as pessoas se encontram sempre alegres uma vez que não é preciso muito para que elas mantenham os seus níveis de felicidade, com estes elevados teremos associados a boa educação, o respeito mutuo e a prestabilidade, características que são cada vez mais raras no mundo desenvolvido e repleto de insatisfação. Daí reforço uma frase que já todos nós nos cansamos de ouvir, não é preciso muito para nos sentirmos bem.
Para além do visto no terreno, o meu trabalho também se desenvolveu a nível central. Com uma grande sorte fui “promovido” a coordenador de país, função que desempenhei a titulo temporário até estes dias. Com essa promoção adquiri funções como gerir 2 escritórios separados por 6 horas de distancia, coordenar as equipas de trabalhos, pagar salários, fazer contabilidade, organizar inaugurações, reunir e manter relações com parceiros, contactar directamente com o ministro da saúde, comprar veículos antenas de rádio entre muita outra logística, manter relações com embaixadas, organizar formações e confrontar todas as advertências do dia-a-dia. Um exemplo concreto, temos o caso de uma ponte que caiu a uns tempos atrás em um dos distritos em que me encontrava. Fiquei preso nele uma semana, sem ter qualquer possibilidade de lá sair, ora relacionado a esse acontecimento esteve associado a perda de uma das nossas viaturas que ao tentar contornar a referida ponte ficou atolada na praia tendo sido apanhada pelas aguas do mar. a situação da viatura resolveu-se com a ajuda da população local, um jeep da ONU a puxar o carro e por fim uma escavadora que pedi em nosso auxilio. Alem disso esse corte de contacto das vias de comunicação não existia qualquer curso possível de troca de produtos e serviços.
Assim sendo reuni-me com os lideres locais e juntamente com eles e através de muitos contactos com a ONU e governo conseguimos organizar um helicóptero para se necessário transportar doentes graves para fora do distrito e se possível transportar mantimentos para o local. Assim foi um dia de trabalho entre muitos muitos outros que se os fosse a referir utilizaria um número considerável de folhas.
A localização geográfica também ajuda a outras pequenas aventuras como Bali no qual estive a 3 semanas atrás e Austrália á qual irei em breve. Mas essas serão outras aventuras a relatar mais tarde.

Concluindo posso-vos dizer que esta aventura Timorense, juntamente com a minha aventura Inglesa estão a constituir até agora momentos altos na minha vida, sentido assim uma excelente sensação ao estar a concluir os planos a que me propus tempos atrás. 
Agora não correndo o risco de me tornar aborrecido não me estenderei muito mais. Deixo aqui mais uma vez os meus agradecimentos por se lembrarem de mim e os meus parabéns pelo vosso projecto.

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